segunda-feira, 18 de maio de 2015

Educação, Bioética e Tolerância Religiosa (não necessariamente nessa ordem!)


Cena do Filme X Men: O confronto final (X-Men: The Last Stand, 2006)
Coisa mágica é entrar em uma biblioteca ou livraria e passar algumas horas, ou mesmo que apenas alguns minutos...sempre digo aos meus amigos e amigas que só de entrar em uma biblioteca já me sinto mais inteligente: é como se as ideias lindas dos livros pulassem na gente e viessem conversar, ou como diz a filósofa e poeta Viviane Mosé, "Um livro não tem que te dar conteúdo (saberes prontos), ele tem que te criar internamente um "pássaro batendo asas", ele tem que te criar um incômodo, um movimento, uma dança" (ela fala isso num dos programas Café Filosófico, em vídeo lindo no post abaixo!).  
        
E sempre acabo pegando um livro desse na mão, desses que  realmente cria um pássaro batendo asas dentro da gente, e com um par de asas beeeem grande, tipo aquelas do rapaz do X-Men 3 (que aliás, tem mais é que fugir da tal da "cura" dos mutantes, como faz nessa cena da foto acima: ah, eu com umas asas daquelas!Iria para o Rio de Janeiro toda semana, só voando!haha).

Ok, me empolguei com as asas do rapaz do filme X-men, mas voltando ao livro que me criou tais asas: só poderia ser dele, o nosso querido patrono da educação brasileira: Paulo Freire.
Mais um livro lindíssimo, desses que "vários pássaros começam a bater asas" dentro da gente, gerando um turbilhão de ideias e reflexões. O livro é Pedagogia da Tolerância (Paz e Terra, 2014), carinhosamente organizado por Ana Maria Araújo Freire, sua companheira de tantos anos.

Como eu estava lendo sobre Bioética, veio à minha mente a necessidade do envolvimento da bioética e das aulas de Filosofia, tanto no ensino médio quanto superior, na educação para a tolerância religiosa, pensando no caso paradigmático dos pacientes Testemunhas de Jeová, que não aceitam transfusão sanguínea. Isso é assunto para muita discussão no nosso Grupo de Estudos em Bioética, e para um ou dois artigos (até mais, mas é só o que o tempo me permite no momento!), mas vou deixar vocês com uma citação inspiradora com a qual começo meu artigo: 

"   O que a tolerância autêntica demanda de mim é que respeite o diferente, seus sonhos, suas ideias, suas opiniões, seus gostos, que não o negue só porque é diferente. O que a tolerância legítima termina por me ensinar é que, na sua experiência, aprendo com o diferente. É neste sentido que a tolerância é virtude a ser criada e cultivada por enquanto a intolerância é distorção viciosa (FREIRE, 2014, p. 26). "





E lá é possível um pássaro não bater asas dentro de você depois de ler uma citação dessas?
Vamos lá colegas professores, pais, vizinhos, estudantes! Somos todos educadores e educadoras uns dos outros! Eduquemo-nos para a tolerância amorosa que Paulo Freire nos indica!

Café Filosófico - O que pode o corpo

terça-feira, 5 de maio de 2015

Filosofia e Filosofar

Numa dessas viagens de ônibus entre Paraná e Santa Catarina, após conversar bastante com uma senhora que viajava ao meu lado, eu estava absorta em meus pensamentos lendo o livro de Alejandro Cerletti, sobre o ensino de filosofia como problema filosófico.
Quando o ônibus parou em uma das "trocentas" rodoviárias que existem entre Toledo e Florianópolis, um moço que ia descendo me abordou: "-Moça, com licença?
- Sim?-respondi
-Mas e então, ensina-se filosofia ou filosofar? Hegel ou Kant?Kant ou Hegel?- e foi descendo o ônibus com cara de intrigado.
- Os dois, oras!Os dois!"-respondi eu.

 Foto: cena do filme  "A Garota da Fábrica de Caixa de Fósforos", 1990. Finlândia, Drama. 


A questão feita pelo rapaz, tem como base a frase atribuída a Kant, que teria afirmado: "Não se ensina filosofia, ensina-se a filosofar".

Ele foi descendo, o ônibus partiu, e a senhora do meu lado sem entender nada perguntou: "-o que foi que ele disse?". Hehe, imagina, cada doido que aparece! Expliquei para ela que tinha a ver com o livro que eu estava lendo, que ele deve ter visto, pois provavelmente devia estava sentado logo atrás de nós.

Mas fiquei pensando se a resposta que eu tinha dado a ele era correta.

Ao chegar ao meu destino, deparei-me com o artigo de José Barata-Moura, Filosofia e Filosofar: Hegel versus Kant? no qual são desmistificados alguns pontos acerca da suposta dualidade entre esses dois autores. Pois, normalmente, atribui-se a Hegel uma abordagem puramente histórica da Filosofia, e à Kant um filosofar que independe dos textos clássicos. Para Barata-Moura essa dicotomia não faz sentido, pois ensinar o filosofar sem o texto filosófico é vazio, e ensinar história da filosofia sem filosofar é praticamente impossível, já que, ao entrar em contato com as ideias de Platão e seus textos, por exemplo, acabamos pensando junto com ele.

Tais comentários acerca dessa diferença entre ensinar filosofia e ensinar a filosofar teriam fundamento? Segundo José Barata-Moura não. Afinal, é possível ler um texto de filosofia, entendê-lo, sem que nenhum pensamento seja gerado sobre o assunto? Eu mesma quando li o artigo pensei e concordei com ele. Mas logo após, questionei se ele não estaria sendo muito otimista em relação à abordagem histórica da Filosofia. E ao escrever esse comentário sobre ele, percebo que ele estava certo, pois li o texto e estou pensando no assunto até agora...